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Elas te conhecem !! 
Pardais, pombas e até periquitos espalhados pelas mais populosas cidades  do mundo a interagir com as pessoas. A pose fotográfica padrão dos  turistas em Roma ,na Itália, é aparecer com pombas pousadas sobre eles.  Para traçar uma linha reta na Praça da Sé, na cidade de São Paulo, é  preciso esperar que elas saiam de sua frente andando - não voando -  calmamente. Eu conheço Pardais e Tico-ticos que praticamente dividem o  prato de comida comigo quando vou a um restaurante de um hospital de  Campinas/SP, mas também conheço outros, em outros lugares, que nem  chegam perto de mim; voam ao menor sinal de minha aproximação. Afinal de  contas eu conheço as aves ou são elas que me conhecem?
- Ainda sobre isso, dias atrás me vi tentando formular uma resposta à  minha esposa a respeito da interação entre humanos e animais. Num dia de  sol, intrigada, ela me perguntou por que nossa cidade (São Paulo),  aparentemente tão inóspita, estava repleta de periquitos tão bonitos.  “Antes não era assim!” disse ela. Olhei rapidamente para os periquitos  (Brotogeris tirica – Periquito-rico) que ela admirava numa árvore  enquanto o semáforo indicava pare e arrisquei de pronto uma reposta  citando exemplos de pombas, pardais e até do protozoário da toxoplasmose  (estava lendo sobre isso na época), lembrando que estes vieram parar em  nossas terras através das migrações Portugal-Brasil ou África-Brasil e  foram se “acostumando” conosco aos poucos. Na verdade, suas gerações,  uma após a outra, foram se tornando cada vez mais aptas ao nosso  convívio e tiveram enfim grande sucesso, pois encontraram entre nós uma  fonte quase inesgotável de alimentos. Citei também o caso dos ratos e  outros animais.
- Esse é  um daqueles assuntos com o qual nos deparamos diariamente e  sobre o qual cada um diz um pouco do que sabe mas sente que “tá faltando  alguma coisa” nesse quebra cabeças de argumentos sobre o comportamento  animal. As perguntas que poderiam surgir são: por que algumas espécies  silvestres brasileiras são cada vez mais frequentes entre nós enquanto  outras estão definitivamente desaparecendo conforme vão rareando seus  ambientes nativos? Ou, o que leva indivíduos de uma mesma espécie a ter  comportamentos diferentes em diferentes situações? Será que eles têm a  capacidade de mudarem de comportamento a cada diferente situação em que  se deparam? Será que aqueles pardaizinhos nos conhecem um a um? Sabem  eles quem representa perigo e quem não representa perigo algum? Como  isso pode ser? 
- No ano passado (2009) foi publicado um trabalho científico com  passeriformes americanos que traz alguns esclarecimentos sobre o seu  comportamento adaptativo em relação a nós seres humanos. O trabalho é  tão bom que foi aceito para publicação em uma das melhores revistas de  divulgação científica do mundo, a PNAS (Proceedings of the National  Academy of Sciences of USA) e chama mais atenção ainda pela forma barata  e simples com que encontrou respostas tão importantes sobre o  comportamento animal. Coisa que é pouco comum no meio científico onde  geralmente a expectativa é de que para encontrar respostas científicas  de valor temos que ter grandes financiamentos, como são os projetos  complexos dos grandes cientistas;– Mas ninguém é grande cientista antes  de fazer grande ciência.
- Douglas J. Levey e seus colegas da Universidade da Flórida nos Estados  Unidos são os autores do trabalho. Eles pesquisaram o pássaro americano  Mimus polyglottos (veja em  http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/accounts/information/Mimus_polyglottos.html),  um passeriforme cujo primo brasileiro é o Sabiá-do-campo (Mimus  saturnicus). Em comum eles têm uma incrível capacidade de imitar o canto  de outras aves (Mimus, do latim imitador), o rabo comprido e as asas  curtas, características que os diferenciam muito dos sabiás do gênero  Turdus que são de família distinta dos Mimus. Conheça sobre os Mimus  brasileiros navegando no site http://www.wikiaves.com.br/sabia-do-campo.  Entre nós os humanos os bons imitadores são geralmente aqueles que  conseguem captar detalhes muito peculiares das outras pessoas, detalhes  que os individualizam, e o que li no trabalho de Levey e colegas me faz  pensar que isso vale também para os pássaros imitadores. A pergunta  fundamental da pesquisa deles foi: Será que o Mimus polyglottos é capaz  de aprender rapidamente a distinguir pessoas que se aproximam de seus  ninhos, de modo a responder a cada vez com maior antecipação e  agressividade na medida em que o intruso insiste em ameaçar seu ninho? A  posse dessa capacidade poderia explicar como certos animais se adaptam  melhor à vida urbana do que outros. Para testar a hipótese eles  precisaram de apenas 5 dias, 24 ninhos habitados e 30 segundos por dia  de 10 voluntários. Tudo isso estava à disposição deles no campus da sua  própria universidade. Durante 4 dias seguidos um voluntário permaneceu  30 segundos a 1 metro de distância dos ninhos e durante 15 segundos  tocou a borda deles. Enquanto isso os pesquisadores anotavam a distancia  de fuga, o número de ataques rasantes e os sons de alarme dos M.  polyglottos, os quais aumentavam a medida em que os dias avançavam. No  5º dia consecutivo outro voluntário aproximava-se dos ninhos e fazia  exatamente a mesma coisa que o primeiro voluntário fez nos 4 dias  anteriores. O que os pesquisadores viram é que as distâncias de fuga, os  ataques e os alarmes em relação ao segundo voluntário eram comparáveis  aos níveis manifestados no primeiro dia do voluntário anterior. Ou seja,  em poucos contatos diários de 30 segundos o M. polyglottos é capaz de  identificar uma pessoa que pela freqüência de intrusões parece ser uma  ameaça, ao mesmo tempo em que mantém certa ‘calma’ em relação a outro  intruso de primeira viagem, que ainda não provou ser uma verdadeira  ameaça. O M. polyglottos parece capaz de aprender a lição rapidamente,  ele guarda a fisionomia de uma pessoa e registra seu comportamento.  Nessa semana presenciei uma cena que sei ser comum entre os amantes de  aves e que agora faz todo o sentido. Enquanto eu conversava com um  famoso criador de pássaros em seu criatório ele me interrompeu para  dizer: “Veja só Francisco! Tá ouvindo? Ele me conhece e eu conheço ele. A  gente conversa o dia todo. Ele está entendendo o que eu estou querendo  te dizer”. Eu não duvido disso.
Agradecimentos.:
- Antonio Francisco Ferreira Neto, biólogoEspecialista em biologia molecular pela Unicamp.
Fundador e diretor geral do laboratório Unigen Tecnologia do DNA LTDA..
Colaboradores.:
Membros do Clube dos Psitacídeos®
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
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