Mistura de Sementes |
Ao contrário do que muitos pensam, sejam colegas veterinários, biólogos, donos de comércios de produtos animais ou mesmo proprietários de aves, as sementes disponíveis para venda (especialmente o girassol) já foram catalogagas como alimentos desbalanceados e perigosos à saúde das aves. Existem 3 problemas importantes em relação ás sementes que as contraindicam como base da dieta. O primeiro problema é o valor nutricional, seguido da contaminação por aflatoxinas, e por último, o excesso de gordura.
Em 2004, um médico veterinário norte-americano, Randal N. Brue, inseriu um texto revelador no livro do doutor pioneiro no estudo de aves, igualmente norte-americano, Greg J. Harrison, sobre a nutrição das aves.
De acordo com Brue, a semente de girassol é deficiente em vitaminas (vitaminas A, E, D, K, riboflavina, ácido pantotênico), minerais (ferro, cobre, manganês, selênio, cálcio e zinco), aminoácidos (niacina, colina, biotina, iodina, lisina, metionina), fibras, entre outros elementos. Caro leitor, traduzindo, sua ave estaria se alimentando apenas de "cheetos".
Além disso, o armazenamento das sementes em geral é precário no Brasil, havendo uma grande contaminação por aflatoxinas, que são venenos produzidos por fungos, em especial o Aspergyllus sp., que não tem cheiro, nem gosto e nem cor, e pior, não pode ser destruído pelo calor. Essas aflatoxinas provocam uma lesão crônica no fígado das aves, que vão apresentar sintomas de acordo com a quantidade que ingerirem. Os sintomas são variados, desde um crescimento de bico e unhas anormal, até um emagrecimento com diarréia, vômito e fraqueza. O tratamento, em casos agudos de intoxicação por essa toxina, deve ser emergencial. Nos casos crônicos, pode-se reverter os sintomas com tratamento injetável e pode-se retardar os efeitos hepáticos trocando-se as sementes por ração extrusada própria da espécie. Sei que muitos estão indagando: "mas como a semente é tão nociva se minha ave come há anos e nada aconteceu?". A resposta é simples e está relacionada à biologia das espécies em questão (passeriformes e psitaciformes): são presas
na natureza e jamais vão demonstrar sintomas até que o fígado esteja 80% comprometido. Se precisarem comprovar tal lesão antes dos sintomas aparecerem, vão a um médico veterinário especilaizado, que solicitará exames que diagnosticarão essa hepatite, mais conhecida como lipidose hepática.
Por fim, o terceiro problemas dessas sementes é a grande quantidade de gordura na sua constituição. Não só o girassol, como as outras menores também. Esse excesso de gordura não será utilizada pelo organismo da ave, levando a um armazenamento. O armazenamento será processado no fígado, que tranformará a gordura vinda da digestão em moléculas menores. Porém, o menor que o fígado consegue chegar não é pequeno o suficiente. E quando a molécula de gordura entra nos hepatócitos (células do fígado), ocorre morte deles. E isso ocorre em cadeia, como se fosse uma bola de neve em uma ladeira. As células vão morrendo até que o corpo reclama. Agora, imagina essa morte do fígado, associada à morte provocada pelas toxinas e a desnutrição da ave para tentar combater essas lesões?
Caros leitores, para mudarem o conceito sobre a nutrição das aves, vão precisar manter suas mentes abertas aos novos estudos e pesquisas. Já passamos da era pragmática, onde não se tinha material algum sobre animais silvestres. Se quiserem uma ave com qualidade de vida, de crias, de penas e de saúde, vão ter que repensar sobre sua nutrição.
Agradecimentos:
- Dra. Érica Carricondo - CRMV-SP 18539
- (Pós-Graduada em Clínica e Cirurgia de Animais Silvestres desde 2006)
- Clube dos Psitacídeos®
seja o primeiro a comentar!