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Quando se trata de Prevenção, sugere-se que sejam adotadas medidas higiênico-sanitárias corretas para minimizar chances de que os animais fiquem doentes. Além da higiene propriamente dita, mantendo-se a limpeza rotineira do ambiente e utensílios de criação (gaiolas, comedouros, bebedouros, poleiros, ninhos, etc), medidas como a adoção de quarentena para animais recém adquiridos ou que retornam de exposições muitas vezes são negligenciadas por criadores, a acabam sendo uma grande porta de entrada para diversas doenças nos criadouros. Sabe-se que, idealmente, a quarentena deve ter uma série de aspectos técnicos de isolamento destes animais a serem respeitados que se forem levados à risca acabam a tornando praticamente inviável sua realização em criadouros de aves ornamentais. Entretanto, para a imensa maioria das doenças que freqüentemente trazem problemas e tiram o sono dos criadores, apenas a manutenção destas aves recém-chegadas em um ambiente anexo ao criadouro, porém separado de alguma forma (por exemplo: um pequeno banheiro ao lado do criadouro) já permite que sejam identificados os problemas.
Nos últimos anos, de forma cada vez mais freqüente, é possível notar que criadores estão confundindo o conceito de Prevenção (novamente: conceito que sugere a implementação de medidas higiênico-sanitárias para prevenir doenças), interpretando-o como “utilização de Medicamentos de forma indiscriminada para prevenir doenças” – doenças que, em muitos casos, são pré-existentes no plantel e seriam evitadas com medidas muito mais simples e baratas. A idéia de prevenir doenças advém do fato que, quando doente, um animal não tem plenas condições de desenvolvimento e reprodução, sendo necessária a utilização de medicamentos para que a doença seja tratada. A imensa maioria dos medicamentos, quando utilizados, interfere de alguma forma com o metabolismo do animal, e podem também trazer prejuízos ao organismo, especialmente quando se faz o uso indiscriminado destes fármacos sem a devida orientação, e em muitos casos como feito pelos criadores, usando-os em superdosagens.
Na farmacologia (ciência que estuda os medicamentos), existe uma expressão famosa que diz que “a diferença entre uma droga letal e um medicamento muitas vezes está na dosagem”. Existem inúmeros relatos de criadores que adicionam antibióticos, vermífugos ou anti-coccidianos aos alimentos ou água de suas aves de forma contínua, indiscriminada, sem orientação de um médico veterinário e sem nenhum tipo de critério, com doses muito maiores do que as recomendadas. Muitos criadores insistem em “usar medicamentos de forma preventiva”. Mas, afinal, se um criador vê a necessidade de usar medicamentos, será que os conjuntos de medidas higiênico-sanitárias (quarentena, limpeza de gaiolas e utensílios, temperatura, luminosidade, umidade e ventilação ambiente adequados, entre tantos outros) que impedem suas aves de ficarem doentes estão sendo efetivos? Não vemos pessoas tomando medicamentos anti-cancerígenos para “prevenir o aparecimento de tumores”. Também não vemos pessoas operando o ligamento cruzado do joelho para “prevenir lesões e rupturas de ligamento”. Então, por que usar medicamentos nas aves para “prevenir doenças”?
A adição de certos tipos de medicamentos de forma “preventiva” na água ou na ração é feita comercialmente na avicultura industrial, mas é realizada de forma extremamente criteriosa. Nestes casos, são utilizadas dosagens corretas, que foram determinadas em estudos científicos (na maioria dos casos, dosagens estas muito menores que as dosagens terapêuticas – que são as dosagens indicadas para casos de doença já instalados), utilizando-se medicamentos devidamente recomendados através de comprovações laboratoriais como sendo efetivos para tal finalidade, e sob orientação ou supervisão de médicos veterinários habilitados. Talvez daí venha esta idéia dos criadores de aves ornamentais, que insistem em “usar remédios preventivamente”, porém estes acabam esquecendo de todo o restante, que acaba sendo muito mais básico e fundamental para que se faça a Prevenção de Doenças de forma correta. Portanto, criadores, repensem o “uso preventivo de medicamentos”, afinal, se todas as outras medidas preventivas não forem adequadas e se o uso destes medicamentos for feito de maneira indiscriminada e incorreta, sem a supervisão de um médico veterinário habilitado, não se estará praticando a Prevenção de Doenças, e o resultado poderá ser ainda mais desapontador em relação à manutenção de um plantel saudável.
Agradecimentos.:
- César Garcia Capel Wenceslau- Autor
- Médico Veterinário (CRMV-SP 27.867)
- Sócio CCCC n°167 – Criadouro Nova Geração
- Clube dos Psitacídeos e Clube dos Canários de SP.
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